INFECÇÃO MULTIRRESISTENTE: COMO “VENCEMOS” NA CADELA PARAPLÉGICA VIDA

O QUE SE FAZ QUANDO A MEDICINA DIZ QUE NÃO TEM MAIS O QUE FAZER? COM VIDA FOI ASSIM: BACTÉRIA MULTIRRESISTENTE. VEJA COMO VENCEMOS POIS INFECÇÕES URINÁRIAS RESISTENTES SÃO A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE EM ANIMAIS PARAPLÉGICOS.

Quem acompanha a Vida nas redes socias do MeuPetEspecial viu que ano passado demos uma notícia muito ruim: Vida estava com nova infecção urinária grave e, dessa vez, sem opção de tratamento. Mas vamos contar com calma e detalhes pois a ideia é trocar informações para outros que possam estar passando pelo mesmo que Vida passou. Recebemos MUITAS mensagens de animais paraplégicos com infecções multirresistentes, perguntando o que fizemos. Então, está aqui a matéria.

Bactérias resistentes são aquelas que não são atingidas por antibióticos conhecidos

A DESCOBERTA DA DOENÇA

A Vida, desde seu resgate, passou por MUITAS infecções urinárias. Em uma delas, quase fatal, foi poucos meses depois de seu resgate, como mostra a matéria. Demorei muito a ter segurança para fazer o esvaziamento da bexiga dela – o que é comum. Não nascemos sabendo. Nem mesmo veterinários sabem às vezes fazer esvaziamento de bexiga. Por isso a importância de trocarmos informações. Fizemos um tutorial sobre isso.

Mesmo fazendo o esvaziamento correto e na frequência correta, infecções urinárias são comuns em animais paraplégicos, principalmente em fêmeas. Veja a matéria que fizemos também sobre isso.

Como descobrimos essa infecção urinária? Bem, o ideal é fazer exames regularmente. Mas, no caso da Vida, sempre que se fazia exame, sugeria infecção urinária. E sempre entrávamos com antibiótico. Chegamos a fazer tratamento com 5 antibióticos em um ano em Vida, para infecções urinárias diferentes. Acabava a terapia com um, fazia o teste após e via que nova bactéria causava infecção. Fazia-se nova administração com novo antibiótico. Não se pode tomar tanto antibiótico assim!

O uso de antibiótico de forma frequente seleciona bactérias resistentes. Com isso, sabíamos que essa prática nossa iria causar uma infecção multirresistente, como já estava causando. A cada infecção a bactéria encontrada era mais resistente.

O uso de antibióticos de forma frequente seleciona bactérias resistentes. Por isso o uso desse medicamento é controlado.

Sendo assim, foi opção NOSSA juntamente com o nosso veterinário, apenas usar antibiótico quando Vida apresentasse sintomas de infecção urinária e não no exame de rotina. Por que sublinhamos que foi nossa decisão junto com o veterinário? Porque não é a orientação para qualquer caso. Cada caso é um caso! Aqui estaremos contando o que foi feito para a Vida! Não quer dizer que deve ser feito para o animal a ou b. Estamos apenas dando a NOSSA experiência para, se você estiver passando pelo mesmo caso, possa ter informações de um caso para discutir com o SEU VETERINÁRIO, não para decidir sozinho!!!!!!  Fique claro!!!!

Decidindo então tratar para infecção apenas quando Vida apresentasse sintomas, quais foram os sintomas? Xixi com cheiro mais forte, mais escura. Mais que isso, Vida começa a ter sangue na urina. Quando é muito grave, ela ainda apresenta um sintoma não muito comum: vômito. Ela, então, apresentou esses sintomas. Sabíamos que era mais uma infecção urinária e fizemos todo o protocolo para isso.

DIAGNOSTICADA A INFECÇÃO, O QUE DEVE SER FEITO?

Assim que verificamos sintomatologia na Vida, fui na emergência. Fizemos a coleta da urina por cistocentese para laboratório. Deve-se fazer o exame de urina básico E URINOCULTURA, como deixamos enfatizado na matéria sobre infecção urinária. O exame de urina geralmente fica pronto em no máximo um dia. Já a cultura fica pronta geralmente em 10 dias. Com o exame de urina e sintomatologia já se sabe se há infecção e já pode começar o antibiótico. Isso foi feito. No caso da Vida o diagnóstico ainda contou com ultrassonografia, que mostrou o início de pielonefrite (quando a infecção atinge os rins).

O antibiótico prescrito nessa fase (que não se sabe qual bactéria está causando a infecção, apenas sabe-se que há infecção) é um classificado como de amplo espectro ou seja, que atua em grande parte das bactérias. Até o fim do tratamento o resultado da urinocultura já terá saído, o que poderia dizer se a bactéria responde bem ou não ao antibiótico escolhido. Se não, troca-se o antibiótico. Nesse caso, escolhemos um antibiótico de amplo espectro baseado nas urinoculturas antigas da Vida. Se seu pet faz cistite (infecção urinária) de repetição, deve-se sempre avaliar o histórico dos exames.

Depois de 10 dias a urinocultura ficou pronta. E mostrou que a bactéria não era sensível (ou seja, não morreria) com o antibiótico escolhido. Mais que isso, mostrou que a bactéria era multirresistente a TODOS os antibióticos testados, sensível a apenas UM, extremamente nefrotóxico e de administração venosa ou seja, Vida precisaria ficar internada por 15 dias (pensa o custo disso!).

A médica da emergência já queria internar Vida. E eu disse NÃOOOO! E deixo aqui a dica para que você avalie também. Um laboratório de análises clínicas tem uma gama de antibióticos para testar no caso de urinocultura. Mas não é padronizado quais e quantos eles irão testar. E foi isso que observei no exame: a médica queria internar a Vida baseado no resultado de um exame que estava incompleto. O laboratório não testou muitos antibióticos que comumente são utilizados na terapêutica para infecção urinária. Ou seja, ele só me deu a opção de UM antibiótico muito ruim porque não testou outros.

Ahhh! Mas como vou saber isso? Pergunte ao seu médico de confiança. Debata com ele. Busque informações. Busque outras opiniões profissionais.

Observando isso, não permiti a internação (o que deixou a dona da clínica bem irritada) e exigi o contato do responsável técnico do laboratório. Falando com ele, exigi que fosse refeita a análise testando outros 7 antibióticos. Refizeram. Apenas com 5. E o resultado deu resistente a 4 deles, nos dando apenas mais uma opção terapêutica (também sendo necessária a internação). Mas ainda queríamos a análise desse último antibiótico, que o laboratório não analisava.

Ao longo dessa confusão toda, o antibiótico de amplo espectro que estávamos usando acabou o tempo de administração. Como Vida melhorou e ainda não tínhamos o resultado de qual antibiótico usar, deixamos ela sem cobertura de antibiótico, permitindo nova coleta de urina para análise em outro laboratório (já que o primeiro, mesmo com todo o escândalo que fiz, não analisava o antibiótico que pedi).

Coletamos nova amostra. Levamos a um laboratório que confiávamos, mais completo. Já no exame de urina verificou-se a presença grande de bactérias.

Exame de urina, agora no laboratório que gostamos, analisou até se havia bactéria na urina. E, sim. A infecção estava lá e muito presente.

Oito dias depois, saiu o resultado da cultura, muito mais completa, que mostrou que a bactéria era resistente a quase todos os antibióticos disponíveis no mercado (e não somente os que o laboratório tinha como no primeiro caso). A bactéria era sensível a apenas 3 antibióticos. Todos necessitavam de internação sendo um deles extremamente nefrotóxico ou seja, não poderia ser utilizado. O que fazer? Não tinha o que fazer… Conhecendo Vida como conheço, sabia que se ela fosse internada, ela não voltaria. Interná-la era a última opção.

Foram testados quase todos os antibióticos existentes no mercado. Apenas 3, que não poderiam ser usados, deram sensíveis à bactéria.

SEM OPÇÃO TERAPÊUTICA, O QUE FIZEMOS?

Desde as primeiras sintomatologias de Vida, já imaginando se tratar de bactéria resistente, aumentamos algumas terapêuticas e iniciamos outras. Toda essa confusão de exames e mais exames que demoravam muito para ficar prontos durou quase 3 meses. E Vida ficou sem tratamento? Não.

Decidimos com a ajuda de alguns veterinários que acompanham Vida a fazer uma terapia alternativa e avaliar sintomatologia enquanto não descobríamos um antibiótico para tratar. E, quando soubemos que nenhum antibiótico poderia ser utilizado, o tratamento alternativo tornou-se o único.

É arriscado? É! Por isso a decisão foi tomada em conjunto com QUATRO veterinários e acompanhada por eles. TRATAMENTOS ALTERNATIVOS NÃO DEVEM SER FEITOS POR CONTA PRÓPRIA, APENAS COM ORIENTAÇÃO MÉDICA. Assim como, eles não substituem o tratamento convencional. No nosso caso, não havia opção de tratamento convencional.

Optamos pelo tratamento alternativo e avaliar sintomatologia e fazer exames de urina periódicos. Se não melhorasse ou se piorasse, internaríamos Vida e faríamos o administração do único antibiótico possível. Era a última alternativa.

Um dos mais poderosos tratamentos alternativos: carinho. Aqui Petit fazendo carinho na Vida ainda com sintomas.

O que foi feito? Ficam as sugestões aqui para serem discutidas com o seu veterinário. Não se deve fazer por conta própria. Estamos compartilhando informações para discutir com o veterinário o que pode ser válido para o seu caso específico e não estimulando auto-medicação. Somos contra auto-medicação. Ela pode matar! O que é remédio pra um pode ser veneno para outro!

1- Reforçamos algumas medidas que já fazíamos como a ingestão de cramberry (fruta importada que comprovadamente diminui e previne infecção urinária).

2- Aumentamos a frequência que fazíamos compressão da bexiga para que ela fizesse xixi. Quanto menos tempo a urina fica na bexiga e mais vezes se faz xixi, menor a possibilidade de bactérias cresceram e se fixarem.

3- Começamos a dar kefir para Vida e Petit. Eles adoraram! Muitas pessoas perguntam o que é kefir. Pesquise a respeito! É um tipo de iogurte natural feito em casa. Não se encontra pra vender. Você precisa da “semente” (que são os micro-organismos) e leite. Procure a receita na internet e tome todos os cuidados para que não haja contaminação. A semente se obtém por troca com outras pessoas. Não se vende também. Procure grupos nas redes sociais que oferecem a semente na sua cidade. Foi assim que eu consegui. O kefir é imunoestimulante, favorece a flora intestinal, entre outros vários benefícios. Muitos benefícios mesmo!

4- Demos também imunoestimulantes vendidos em farmácia alopática prescritos pelo médico veterinário.

5- Começamos remédios homeopáticos para estimular o sistema urinário, aumentar imunidade, combater infecções.

6- Reforçamos a acupuntura para estimular a imunidade e sistema urinário.

7- Preparamos um nosódio, um remédio homeopático feito por prescrição. É um remédio feito a partir de amostra vindo do organismo, no caso a urina da Vida. A ideia mais ou menos é fazer um remédio que estimule o seu corpo a combater aquela doença especificamente. Procure a respeito!

8- Começamos a administração de fitoterapia chinesa. Tivemos a orientação de uma veterinária especialista nisso. Essas fitos são caras e difíceis de achar. Algumas vezes só se consegue comprar pela internet. Infelizmente, eram nossas únicas opções. Tínhamos que tentar.

9- Chás! Muitos chás! Tivemos a orientação de um veterinário especialista em tratamento natural. Usamos 2 chás diferentes: um para recuperar a função renal e um para infecção urinária, usados em momentos diferentes da doença. Há várias opções de chás, que devem ser discutidas com seu veterinário. Nós escolhemos a cana do brejo e o cabelo de milho. Ao final, quando a função renal melhorou, ficamos somente e fortemente com o cabelo de milho. Dávamos no mínimo 4x ao dia. Ela fazia muito xixi. E eu tinha que espremer a bexiga muitas vezes. Cada vez mais o xixi saia mais clarinho e com menos cheiro, indicando que a infecção estava diminuindo.

Vida tomando chá.

10- Banho de assento. Sim!!!!! Receita da vovó!!!! rs. Fizemos banho de assento para a Vida com ervas mediciais, orientadas pela veterinária especialista em terapias naturais. Fazíamos banho de assento somente uma vez na semana porque né… impossível fazer tanta coisa! hehehe Mas o ideal é que fosse feito 3x na semana.

Testando a bacia para banhos de assento. Vida com fome! hehehe

11- Ração urinária, vendida por alguns fabricantes. Ela é bem cara e tem de dois tipos: estruvita e oxalato. Deve ser escolhida com ajuda do seu veterinário, baseado no exame de urina do seu animal (pH da urina e sais presentes).

12- Água de coco é diurética, ajuda a “lavar” a bexiga. Dei bastante mas não muito porque Vida tinha diarreia se eu dava muito.

Algumas poucas vezes além da água de coco eu dava o coco também para eles roerem. Eles amam! Tratamento contra tártaro barato! rs

13- Aromaterapia. Contamos com a ajuda de uma das madrinhas da Vida, que é aromaterapeuta. Ela nos deu uma essência de melaleuca para colocar na fralda da Vida. A melaleuca tem benefícios no combate da infecção urinária. Procure informações!

14- Diminuímos o uso das fraldas. Por mais que dê muuuito mais trabalho, ficar sem fralda é importante para a situação lá embaixo “respirar”. O abafamento só favorece infecções assim como o “represamento” do xixi e cocô na fralda. Mais de 95% das infecções urinárias se dão por bactérias de origem da pele ou fezes. Ou seja, a limpeza e deixar a pele respirar é fundamental para evitar essa contaminação. “Aaahh mas sem fralda eles ficam molhados, sujos. Pode ser pior”. Sim, ficam. E cabe a você limpar. hehehe Infelizmente é o bônus e o ônus. No caso da Vida deixávamos durante o dia sem fralda e durante a noite com fralda. Até porque, ela molhando a cama, não consegue dormir e nos acorda! hehehe Outra dica é NUNCA deixar cocô na fralda. Quem é mãe sabe disso! Assim que sujar de cocô, limpe e troque a fralda.

Com o tempo Vida foi melhorando. Não digo que ela está curada. Os exames mostram que a infecção foi controlada, mesmo sem o uso de antibiótico. Mas parece que ela estava doente? Essa foto foi em uma das consultas.

Parece que Vida está doente? Aqui em uma das muitas consultas de controle da infecção.

Vida está há um ano com exames de urina não mostrando infeção urinária. Não digo que curamos. Mas está sob controle. 🙂

Infelizmente é o que temos. Animal paraplégico com infecção de repetição é isso… Nunca se está 100% curado. Mas frente aos médicos, que não deram 3 meses de vida para ela, Vida está há mais de um ano, e bem. Isso que é importante. E se ela desenvolver sintomas e o exame der positivo de novo, vemos o que pode ser feito de novo. Cada caso é um caso. E sigamos em frente dando a melhor vida possível para nossos especiais!

Obs: Lembramos que nenhuma das medidas que colocamos aqui são sugestões terapêuticas. São informações para serem discutidas com o SEU veterinário para o caso específico do seu pet. Lembre-se que o que é remédio para um pode ser veneno para outro.

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