Capacitismo é um tipo de opressão que define os sujeitos pela sua capacidade, subjulgando os deficientes. E capacitismo pet existe? Existe! Veja como evitar.
Capacitismo é um termo recentemente dicionarizado e é um grande avanço para pessoas com deficiência. Quando há um termo, há uma definição, há o que combater concretamente. Não diminuindo (de forma alguma!) a luta das pessoas com deficiência nós, tutores de pets com deficiências, também passamos por situações capacitistas com eles. E dói. Olhares doem. Comentários doem. Preconceito dói.
Repito que de forma alguma estamos comparando dores. Nossos pets não entendem discriminação. Outros animais não os descriminam. São humanos que o fazem. E se fazem com pets, fazem com humanos e vice versa. É a nossa incapacidade de lidar com o diferente.
Com isso, fizemos um post em nossas redes sociais e vamos discuti-lo um pouco melhor aqui.
Capacitismo é um termo utilizado para descrever a discriminação, opressão e abuso advindos da noção de que pessoas com deficiência são inferiores às pessoas sem deficiência. Inclui, desta forma, tanto a opressão ativa e deliberada (insultos, considerações negativas, arquitetura inacessível) quanto a opressão passiva (como reservar às pessoas com deficiência tratamento de pena, caridade, inferioridade).
O capacitismo pode ser relacionado às pessoas com deficiência assim como o racismo pode ser relacionado às pessoas negras, o machismo para as mulheres. Tem relação com a produção de poder, uma vez que se baseia numa determinada concepção padrão do corpo, um padrão corporal, que o coloca um determinado corpo como perfeito, típico da espécie humana.
Não estamos querendo dizer que o capacitismo pet é tão ruim quanto o capacitismo à pessoas com deficiência. Não! Na maioria das vezes os que sofrem de capacitismo pet são os tutores. Estamos aqui fazendo um paralelo chamando atenção às proporções e comparações. Obviamente o capacitismo humano é muito mais prejudicial. Mas chamar atenção à incapacidade humana de lidar com as diferenças, inclusive em animais, chama atenção também para o lidar com PcD.
Já falamos isso em vários posts e, ter um termo que explica esse preconceito é libertador. Não! Eles não são “tadinhos”! Não, eles não estão sofrendo! Eles só são deficientes. Estão estáveis. São felizes como são! Se tratar com piedade animais que não precisam dela, imaginem o impacto que essa piedade tem em pessoas com deficiência! Animais não entendem que a sua piedade é preconceito, fruto da sua incompreensão da diferença, e é uma maneira de diminuí-lo. Pessoas, sim! Magoa. Talvez com seres humanos as pessoas se controlem mais nesse tipo de comentário e olhares de pena. Exatamente porque sabem que magoam. Mas com animais, o “piedômetro” está solto. As pessoas não tem o mínimo pudor de falar que um animal correndo feliz e brincando no parque é “coitadinho” e, mais, sugestão de eutanásia é tão comum quanto cafezinho: todo mundo sugere.
Uma vez vi uma PcD deficiência falando que às vezes está fazendo coisas simples: indo ao shopping, comendo na praça de alimentação, etc. E as pessoas paravam ele falando que ele é exemplo de superação. Por que atletas nas olimpíadas são apenas atletas? Por que atletas nas paraolimpíadas são taxados sempre como exemplo de superação?
Isso também é capacitismo, também é preconceito. No caso de pets com deficiência, eles não existem para dar lições de vida para humanos. Eles só existem. Brincam, são felizes. Se você quer tirar uma lição disso, guarde para você.
Sim, eles correm, brincam, latem, são territorialistas, comem sapato (como na foto), fazem cara de piedade (como na foto)… São cachorros! Eles não deixam de ser cachorros (ou gatos!) porque são deficientes. O Chicó, por exemplo, paraplégico e biamputado, tenta “montar” na Vida, também paraplégica, por questões de dominância. Eles são cachorros! Eles agem como tal!
É muito grosseiro, por exemplo, querer saber sobre a vida sexual de uma pessoa com deficiência. E depois falar algo do tipo: “nem sabia que você conseguia transar!”. O que você tem a ver com isso pra perguntar? E, pior, pra que comentar algo assim?
Salvos às determinadas proporções e comparações, o capacitismo à pessoa com deficiência e o capacitismo pet vem da nossa incapacidade de lidar com o diferente, de aceitar e respeitar uma realidade que é diferente da sua. Aprender a não ser capacitista pet é um exercício para não ser capacitista. Como disse aqui, a pessoa com deficiência entende o seu preconceito. Os pets, não.
Quer mais um exemplo de capacitismo/ preconceito/ segregação de animais com deficiência? Quantos “animais propaganda” você conhece de grandes marcas que são deficientes? De marca grande eu só conheço dois. Sendo que um deles é “escondido” pela marca e só faz propaganda para os seus próprios seguidores.
Para terminar, apenas uma observação! O termo “especial” também é capacitista para pessoas com deficiência. É um eufemismo, entendem? Mas para animais com deficiência, usamos esse eufemismo. Mas nosso slogan demostra que a deficiência é um detalhe. Porque na verdade, todos são especiais.
Veja outra matéria especial sobre coisas que todo tutor de pet com deficiência está cansado de ouvir!